quinta-feira

a tua boca

Há bocas que nos tiram do sério. Esta eu quero beijar há duas eternidades e meia. Mas foge de mim. A mulher pantera recolhe as garras, larga o pêlo negro e luzidio e fica sem brilho. Pantera sem brilho.
o que eu merecia agora era uma mulher a dias, um massagista particular, uma piscina a sério e não um tanque de duas braçadas, um bilhete de avião ou, na impossibilidade de alguma destas coisas, tu, para o jantar.

Podias trazer aquela camisa azul indigo (a do meu sonho) que te fica a matar e uma garrafa de tinto.
Podias explicar-me porque tens tanto medo de usar o coração enquanto os mariscos marinavam no vinho branco e nos coentros.
E se te faltassem as palavras, podias sempre usar a boca, essa tua boca absolutamente deliciosa e apetecível para provar as massas e dizeres se têm sal ou alho a mais ou a menos.

Podiamos regar tudo com aquele azeite do Redondo, encorpado e quente das azeitonas do último Outono.
Eu provavelmente perderia a fome entre comiscar aqui e acolá.
Mas ficaria impávida e serena a ouvir-te ou a olhar-te e perceber-te em cada gesto ou movimento.

eu já merecia...
e tu também, não sei o quê, mas tu também