sexta-feira


Hoje acordei assim...
e fui tirar os sapatos

quarta-feira

Pela tua mão, entre os teus molhos e pimentas várias, as colheres com que me acolhes os sentidos, os sabores que estalam no céu da boca, os cheiros intensos e as tuas mãos, na massa, entre a farinha e as cores dos teus olhos, tudo na tua cozinha, eu e tu, com o calor do fogão, em lume brando.

sexta-feira

Obrigada!

http://soundcloud.com/pestefm/eu-j-merecia

O primeiro beijo

Quero o teu primeiro beijo.
Na verdade o nosso primeiro beijo.
Quero saber a que sabes.
Sentir a textura dos teus lábios, a temperatura exacta da tua carne.
Só quero o primeiro. Só o primeiro.

Voltar ao alentejo contigo na boca...

as tuas mãos

as tuas mãos falam devagar
são indecisas e ao mesmo tempo determinadas.
em cada momento em que as segurei nas minhas,
essas tuas mãos falaram mais do que tu falas.
contam baixinho histórias tuas,
do homem que tu és.

e eu sei e não sei quem tu és.

sei do amor que me percorre quando te sinto, te pressinto em mim.
nas tuas mãos.

és lobo da minha alcateia ou eu loba da tua?
tanto me faz.

hoje percorro esta distância num momento.
entrego-me com dificuldade ao meu silêncio e choro baixinho quando
finalmente me entrego.

trago em mim essa memória, da forma como me seguraste na mão,
como os teus dedos finos giraram o meu anel
e como os teus olhos me percorreram a pele.

ou terei imaginado tudo, tudo apenas na minha
imaginação?
nem eu nem tu estávamos lá.

apenas o local, as pedras gastas de tanto as pisarem,
a encosta sobre a cidade,
sempre quieta mas em
transformação.

como as tuas mãos quietas e entregues apenas a ti.

sinto o teu medo pedro, é do que mais sinto em ti, e talvez por isso te sinta próximo
como uma segunda pele.
o teu medo é denso, palpável, profundo e antigo.
é irmão do meu.

e emociona-me, emociono-me.

rio com gosto, sorrio em paz, gargalho feliz e também choro amargurada.

conheço-te com certeza de
outras histórias.
de outras alcateias.

onde tu foste um outro homem,
ou um outro lobo,
e eu conhecia-te bem, a tua pele, o teu cheiro, os teus sonhos,
o teu sorriso e o teu medo.

Reconheci-te agora e não antes. tudo a seu tempo,
sem ter tempo na verdade, porque o meu tempo já passou. o nosso.
eu sei
a tua voz ecoa pela minha casa adentro
mas tu não estás.ou estás, quase que te sinto.quase.se fechar os
olhos, posso dar-te a mão e deitar-me contigo na minha cama.anda

domingo

O prazer de...


... ler um livro antes de...?

Ovos mexidos

Falávamos dos ovos mexidos... bem, eis o que me passou pela cabeça, pecaminosa a estas horas dos gatos pardos; tu batias os ovos, eu cortava a salsa picadinha e passava o azeite na frigideira. O chouriço de Portel cortado finamente estalava quente enquanto tu me abraçavas por detrás. Mordiscavas-me o pescoço e eu sorria-te, malandra porque já sabia que não chegávamos sequer a abrir a garrafa de tinto...
Agora a sério, porque isto é uma brincadeira de crianças, crescidas, pelos vistos; enquanto comia os ovos mexidos, há pouco, caiu-me um bocadinho no decote e fiquei ali, a olhar para aquele bocadinho e a pensar que se tu estivesses aqui, que o ias buscar, com a tua boca...

Hoje acordei assim...


... e fui despir o resto...

Descobre as semelhanças... ou as diferenças...

tu

a noite vai longa, acabaste de sair daqui. Preguei-te um beijo. Um beijo roubado ao tempo. Se não houvesse tempo, nem consciência, nem coração, tinha-te beijado, com a boca, com a língua, sentido o sabor da tua boca, dos trejeitos da tua língua de encontro à minha. Tinha sentido a tremura do teu sexo, a vontade que carregas desde que nos conhecemos, de entrares em mim. Só para ver como é. Sabes essa expressão, do "ver como é"? Isso mesmo, não fosse a puta da consciência e a merda do coração.
Só para ver como é, beijava-te, abraçava-te, despia estes calções e deixava-me ir, só para "ver como é". Um dia quem sabe... Amanhã é sempre outro dia.

quinta-feira

a tua boca

Há bocas que nos tiram do sério. Esta eu quero beijar há duas eternidades e meia. Mas foge de mim. A mulher pantera recolhe as garras, larga o pêlo negro e luzidio e fica sem brilho. Pantera sem brilho.
o que eu merecia agora era uma mulher a dias, um massagista particular, uma piscina a sério e não um tanque de duas braçadas, um bilhete de avião ou, na impossibilidade de alguma destas coisas, tu, para o jantar.

Podias trazer aquela camisa azul indigo (a do meu sonho) que te fica a matar e uma garrafa de tinto.
Podias explicar-me porque tens tanto medo de usar o coração enquanto os mariscos marinavam no vinho branco e nos coentros.
E se te faltassem as palavras, podias sempre usar a boca, essa tua boca absolutamente deliciosa e apetecível para provar as massas e dizeres se têm sal ou alho a mais ou a menos.

Podiamos regar tudo com aquele azeite do Redondo, encorpado e quente das azeitonas do último Outono.
Eu provavelmente perderia a fome entre comiscar aqui e acolá.
Mas ficaria impávida e serena a ouvir-te ou a olhar-te e perceber-te em cada gesto ou movimento.

eu já merecia...
e tu também, não sei o quê, mas tu também

domingo

Hoje acordei assim...


Com novos olhos...