quarta-feira

A suave pantera de Marly Oliveira

I

Como qualquer animal,

olha as grades flutuantes.

Eis que as grades são fixas:

Ela, sim, é andante.

Sob a pele, contida

- em silêncio e lisura -

a força do seu mal,

e a doçura, a doçura,

que escorre pelas pernas

e as pernas habitua

a esse modo de andar,

de ser sua, ser sua,

no perfeito equilíbrio

de sua vida aberta:

una e atenta a si mesma,

suavíssima pantera.


Foi curioso descobrir que a poeta Marly de Oliveira escreveu "A Suave Pantera" depois de um passeio pelo jardim zoológico. Marly observava a pantera negra, brilhante como uma jóia. De repente uma criança atira uma pedra e a pantera mostra a fera em fúria. Conta a filha de Marly, Monica Moreira, que a sua mãe foi para casa pensando na suavidade inicial da pantera, a sua noção do presente, sem consciência do passado e sem projectos futuros, presa atrás das grades.

Marly percebeu que a pantera só queria ser livre...